De volta a Salamanca.
Apesar de as férias serem óptimas, a verdade é que já tinha algumas saudades de passear por estas ruas emolduradas pelos edifícios dourados à luz do sol, estar com os colegas na faculdade, voltar ao ritmo da universidade, e do país.
Bem, “férias”, disse eu… Isso limitou-se a uns 20 dias, visto que há um mês que preparava os exames de Setembro. Mas bem, valeu a pena.
Aproveitei então a primeira tarde de 2º ano para passear até à baixa com umas colegas, e nunca pensei que num simples passeio desses assistisse alguma vez àquilo que presenciamos.
Enquanto passávamos numa rua pedonal surge um carro, (assim daqueles género de tunning, com dois rapazes lá dentro) pelo meio da rua, obrigando todos os que por ali passavam a se afastarem rapidamente. Mais alguns passos e ouvimos o forte barulho do motor, olhamos para trás e de novo vem o carro, agora em sentido contrário, e a ainda maior velocidade! Toda a gente recomeça a desviar-se, ainda com mais dificuldade. Nisto, um senhor, creio que já quase idoso, começou a gritar-lhes que aquilo não se fazia; no fundo repreendendo-os pela atitude. Bem, o condutor abranda o carro e faz marcha atrás. Nisto o senhor chega junto dele e pede-lhe para sair do carro. O sujeito acena, sai calmamente, abre a bagageira do carro, tira uma bengala, dirige-se ao senhor e começa a bater-lhe.
Ali. No meio da rua. E todos passavam, faziam que nem olhavam e continuavam, impassíveis àquele horror.
Sim, eu também lá estava e nada fiz. E até agora guardo uma sensação de impotência horrível. Mas fiquei de tal maneira chocada, à beira das lágrimas, que só me imaginava a gritar. E se gritasse seria eu a próxima a levar. Tentámos ver a matrícula mas não foi possível.
Contudo havia gente mais velha, rapazes até a passarem e nada fizeram.
Nunca havia presenciado algo assim, foi daquelas coisas que vemos em filmes e não julgamos ser possível assistir.
Depois disto não creio sentir-me segura como antes me sentia nesta cidade, sempre com bastante policiamento. A verdade é que apesar da policia existir e patrulhar, naquele momento não estava lá, e num caso mais grave o senhor podia até ter sido morto. Talvez ninguém fizesse mesmo nada.
É lamentável. Profundamente desgosto pensar que há gente dessa por aí à solta. É difícil acreditar… aqueles rapazes não irão sentir remorsos? Não imaginam como seria se tivesse sido o pai deles a ser atacado em vez do pobre homem? Não serão capazes de fazer o bem? Afinal de contas o senhor apenas os tentou repreender pelos distúrbios que estavam a causar. Assim é difícil sentirmo-nos seguros, acreditar na própria segurança e na justiça. Isto está cada vez pior. Longe vão os tempos onde podia brincar até tarde na rua só com amigos da minha idade e nada me acontecia. Longe vão os tempos em que podíamos ver as notícias na televisão sem ouvir falar em carjacking, assaltos a multibancos ou esquadras e tribunais, ou mesmo a carrinhas de valores em plena auto-estrada.