Há cerca de cinco anos já eu pensava no dia de hoje. Pensava como seria a minha vida após este tempo. Pensava como seria dizer “Foi há cinco anos”. Pensava como aguentaria a ausência, a dor... Pensava se neste intervalo de tempo, um dia, não iria acordar e reencontrar-me com treze anos, sem um motivo para chorar. Que acordasse na manhã do dia 13 de Agosto e, indo ao quarto do meu irmão ele lá estivesse a dormir. Que acordasse na manhã de 13 de Agosto de 2003 e não ouvisse, ao descer as escadas, o choro da minha mãe, denunciando que aquilo que eu mais temia era real. Mantive essa esperança por muito tempo… E ainda hoje a conservo.
Poderão passar cinco, dez, vinte anos… a minha vontade será sempre a de poder regressar atrás no tempo e mudar o rumo da vida nesta casa.
No dia de hoje assolam-me as recordações daquela noite. O telefonema anunciando que o meu irmão tivera um acidente. A viagem até ao hospital em que me agarrava com todas as forças à minha fé e à esperança que alimentava… “Ele não pode morrer”. A chegada às urgências e toda aquela gente à porta com uma expressão desolada. O desespero dos meus pais. O médico encaminhando-se na direcção da minha mãe… “tenho uma má notícia a dar-lhe…” E o momento seguinte não pode ser descrito…
Chegou o desespero, deu lugar à dor, e por fim à saudade.
No dia seguinte pensava eu, “desde ontem que não falo com o meu irmão, como será daqui a cinco anos? Como poderei dizer que não o vejo ou não falo com ele há cinco anos? Como poderei passar esse tempo sem receber notícias, sem ver a sua cara, sem ouvir a sua voz, sentir a sua boa-disposição, sem tentar ganhar-lhe numa brincadeira, ou ser cúmplice em algo que os meus pais não aprovam. O que fazer quando me perguntam: “és filha única?” ou ao ouvir as pessoas ao meu redor falar dos irmãos mais velhos… Também eu já respondi negativamente a essa questão… hoje não sei o que dizer. Também eu já falei, tantas vezes, orgulhosa do meu irmão,… No passado. Há cinco anos; hoje já não é possível.