Finalmente livre. Livre de testes, digo. Estas últimas semanas foram totalmente pensadas na escola. O fim do ano aproxima-se a passos cada vez mais céleres e esta é uma fase crucial. Claro que o computador, jogos, distracções, e até leituras ficaram de lado. Bem, se valer a pena, transforma-se de esforço em contentamento.
Num desses muitos dias em que ia a caminho para a escola reparei num novo bar-café que abriu. Reparei ainda mais no que tinha escrito à frente do nome do estabelecimento: a palavra “kafé”. Esta breve observação levou-me a pensar, até chegar à escola, sobre a evolução que a nossa língua está a sofrer. Talvez vocês já tenham visto assim um letreiro, mas a mim nunca me tinha acontecido! Uma coisa são as abreviaturas nas sms’s, que praticamente toda a gente usa, ou até mesmo no computador em programas como o msn Messenger. Mas num letreiro? Achei estranho.
È natural que um idioma sofra evolução, aliás, ela é constante, mas a mim parece-me que está a acontecer muito rápido. Não me admiro se daqui a uns 20 anos, se tanto, se considere correcto a substituição do “qu“ por “k” e ainda pior, dos “ss” por “x”. A nova geração escreve toda assim! E que escrevam nas mensagens de telemóvel… aceita-se, mas, e quando estão tão habituados que escrevem isso até nas aulas de português?! Já vi casos desses que me deixaram pasma. É o que faz telemóvel e msn a mais e leituras a menos. Erros e mais erros! É natural que as pessoas errem, ninguém é perfeito, mas há coisas que podem ser evitadas. Uma maneira é lendo. É óbvio que quem lê mais dá menos erros que quem não lê. E tem lógica! Quem não lê onde pode aprender o que é correcto ou errado? Só se for na parte do telejornal da manhã da RTP, “Em bom português”. E tenho a certeza que não é por aí. Bem, ler eles até leêm… Uma vez fiz essa pergunta e disseram-me que liam as legendas dos filmes. Então imaginem quando são aqueles filmes piratas legendados em português do Brasil. Que lucrativo, sem dúvida!
Não quero com isto armar-me em género Hitler e preservar a “língua ariana”, perfeita, sem erros e imutável. Óbvio que não. Confesso que não costumo ser muito adepta de mudanças… Claro está, depende da mudança, mas acho que hoje em dia há cada vez mais exageros, a todos os níveis. Reparem no caso das sms: quando envio mensagens também abrevio, aliás é o melhor a fazer para quem não tem sms “à borla”. Mas acho que há limites. Se dá para substituir duas letras por uma, é bom; mas susbtituir uma por outra? Género: casa – kasa. Pretende-se com isto o quê? Resultado disto: levar os alunos a errarem. Depois há as susbtituições dos “ss” pelo “x”: Não acho piada nenhuma apesar de num caso de “emergência” usar. Género: fizesse – fizexe. Não gosto. Mas depois há para mim a escrita insuportável que não gosto mesmo nada de ler. Coisas do género: “Oix, xpero por vox a ora que combinamox, xim? Temox de ir comprar akele vestidu munituh!” Etc, acho que já perceberam. É como 99.9% dos adolescentes do ensino básico escreve e, infelizmente, os mais velhos estão a adoptar a técnica. Não gosto mesmo e ando sempre a tentar dissuadir as pessoas a não escreverem assim. Dizem que acham querido... Bem, moderação acima de tudo.
Agora se a maioria dos jovens escreve assim hoje em dia, estão a imaginar como será no futuro? É óbvio que se isto persistir esta escrita será considerada correcta e até leccionada! Se até em letreiros já aparece… Já há dicionários de internetês, regras de etiqueta, etc. Daqui a pouco sai o de “smssês”! Bem… esse não, visto que é de domínio geral.
Por mim, fica aqui a esperança de o meu blog um dia mais tarde não aparecer cheio de abreviaturas ou “censurado” por assim não ser. E aqui fica um viva à Língua Portuguesa correcta. Porque ela é a nossa pátria!
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Fernando Pessoa
Bom fim-de-semana a todos!